sexta-feira, 29 de abril de 2011

Marina.

Minhas camisas estão gastas da maquina de lavar, meu cabelo é desarrumado todo o tempo. O cheiro de perfume, cigarro e álcool da casa invadiu meu corpo. Sou um cara comum e malcuidado. Só mais um virando a esquina do Rio de Janeiro de madrugada. Só mais um, meio tonto e meio bêbado. Cantarolando um rock baixo, mas de boa qualidade. Acendo mais um cigarro conforme ando devagar, olhando a lua por entre arranha-céus. Bela noite. Desta vez são só duas pernas indo para a casa. Diferente de outras noites que corpos iam, se imprensavam na parede com o meu e ao amanhecer eram só mais um cheiro perdido entre os cômodos apertados, no máximo um numero de celular colado na porta ou uma meia calça rasgada perdida entre as almofadas do sofá. Hoje eu estava a sós com meu cigarro e a reflexão filosófica me atingiu em um ponto crítico. O álcool fazia com que minhas palavras ecoassem em minha própria cabeça. Gritei. Para minha surpresa, outra voz, vindo de outro bar, de outra esquina, ou do céu... Misturou-se aos meus ecos. Parei e pensei, não tinha absoluta certeza se esse eco era da minha cabeça ou da rua. Do grito ou do devaneio. Esperei e a confirmação chegou bem próxima de mim.
- Pensei que não iria te encontrar.
- E não iria. Já estou indo para casa.
- Sozinho?
- Com você.
Ela riu e começou a andar comigo. Estava bêbada, mas dessa vez estranhamente, ela estava serena.
- Vim procurá-la.
Tive certeza naquele exato momento que não estava calculando minhas palavras. Meus pensamentos estavam sendo expelidos pela minha boca antes que eu pudesse pensar se deveria soltá-los ou não. Ela riu, mas ela acreditou? Era verdade.
- O cheiro forte do seu cigarro me achou antes.
- Vem pra casa comigo - Pedi.
Ela concedeu meu pedido sem relutar, mas sem responder. Seus passos só seguiram comigo até a porta do meu cubículo.
Ela entrou, se sentou na mesa de centro, de frente para o sofá e disse:
- É Marina.
- Eu sabia.
- Você se lembra do meu nome?
- Sim, Marina.
Sentei no sofá de frente para ela, após abrir a geladeira e pegar duas cervejas para nós.
- Eu lembro do teu nome e do seu sexo. Lembro da data. Mas não, não sou um cara correto... Fujo de coisa séria, de coisa certa. Mas eu gostei do teu sexo e gostei do teu olhar. Eu gostei do seu nome e da tua camisa do Rolling Stones. Mas eu não sou esse cara. Eu não reparo em camisas e eu não lembro nomes. Isso foi contigo, Marina. Quem fez isso nesse, foi e é você.
- Eu também fui te procurar.
- Eu sei.
- Você está tentando ir para a cama de novo comigo. Correto?
- Estou.
Percebi um quase sorriso, mas ela também e então o fechou. Intimidou-se e levou alguns segundos pensando em qual decisão tomar. Não parei de olhá-la. Eu precisava daquela resposta.
- Eu não menti - Sussurrei.
O silêncio então se fez presente de maneira duradoura, enquanto me aconcheguei no sofá a chamei com os olhos e ela veio com o corpo. Sentou no meu colo, me beijou.
- Ainda te faço um cara correto.
- Eu vou fugir.
Outro beijo, uma mordida. Ela rebolou e então disse:
- Vai?
Aquele tom debochado que eu conhecia bem, porque era meu, me assustou. Talvez agora eu tenha encontrado alguém como eu e esse era o problema ou a solução? Esse era o começo ou o fim? Pouco me importava as respostas nesse exato momento. Ela estava ali. E não era Maria, nem Carolina. Era só ela, a Marina que já era minha.

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