Eu não sei bem em qual canto me enfiei pra não ver todo esse caos que minha casa se tornou. Minha mãe veio aqui e como você já a conhece, sabe bem qual foi sua reação. Reclamou do cheiro de mofo, quase me atrevi a dizer que era só cigarro barato. Mas me calei. Ela continuou a me questionar mil coisas, e criticar essas mesmas e mais outras mil. Não tinha coragem de responder, nem sabia como explicar a ela o que nem ao meu entendimento era cabível. Locomoveu-se entre todos os cômodos, limpou um pouco, arrumou um pouco, tentou ajeitar o que nem eu queria mudar. Ou queria? Eu permanecia em um estado quase inerte, em uma coisa leve demais para ser chamada de sono e densa demais para ser considerada acordada. Ela entrou, respirou fundo e disse:
- Vamos tomar um sorvete?
Mentalizei palavrões em meio as dúvidas que me vinham. Sorvete? Ela estava de sacanagem com a minha cara? Ao mesmo tempo que tinha uma certeza firme de que não queria sorvete naquele momento, respondi sem sequer pensar que sim. Lá fomos nós, tomamos o bendito sorvete, até que ela me deixou em casa e foi embora. Era só eu, como sempre eu, entrando naquela mesma casa moribunda como a dona. Ainda assim, liguei o som no mais alto volume cantando a música que sempre me trazia paz. Agora de 5 em 5 segundos lembro-me que é da sua banda predileta. Pus a casa a baixo e coloquei cada coisinha em seu devido lugar. Passei aquela noite de verão entre suor e sensatez. Como se finalmente fizesse o que era necessário e sabido durante tanto tempo. Após toda a faxina, tirei a roupa, sentei debaixo da água que escorria no meu corpo de pele tão exausta. E quando finalmente levantei, estava em paz. Mesmo sabendo que ainda não era o fim, que ainda haviam muitos pontos a serem resolvidos e um faxina que deveria ser feita em todos os pilares de minha construção. Porém agora, enquanto o dia clareia, deitarei em minha cama com um cheiro bom e minha casa que agora limpa, me mostra o resultado de tamanho esforço. Talvez eu só estivesse precisando de um sorvete.
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