terça-feira, 5 de junho de 2012
Semelhantes no desencontro.
"Difícil saber se é assim, se é por aqui, mas eu vou logo atrás de você. Eu vejo a semelhança, a distância, a falsa direção dos teus pés. Teus passos inseguros, tão fora de rumo. Se guiando em cruzeiros forjados, se perdendo em cada segundo. Eu quero ver você de perto, transpassar tua alma, fazer teu norte bobagem e te perder sem culpa. Pra quê tantos planos? São muitos os enganos pra onde você partir, eu dispenso o caminho, melhor te deixar ir. E no fim da estrada, teu sorriso incerto e a porta fechada. Eu quero ver você de perto, transpassar tua alma, fazer teu norte bobagem e te perder sem culpa..." Eu queria escutá-la debaixo de sua voz. Tudo o que você faz é belo e não só aos meus olhos, tenho consciência disso. Aliás, foi por esse saber que nunca entendi exatamente o fato de logo eu conseguir meu lugar junto ao seu. Seus olhos se escondem fugindo dos meus e só aí entendo que era eu nos seus versos. Que tudo aquilo era para mim, e eu como sempre despercebo tamanha dedicação e beleza em cada traço seu. Não consigo capitar tudo e como tudo que fazes é belo, logo... Eu me perco em você. E hoje, depois de tanto tempo, eu voltei lá. Encarei debaixo da chuva as nuvens que passavam tão velozes pelo céu. Seus passos subiram a escada e não virei, apenas senti o hálito quente na minha nuca comentando que era pelo vento. De um tempo para cá sempre sobra - ou falta - algo entre nós que tentamos suprir com deboches e respostas óbvias. Isso sem contar o nervosismo e os pés que se mexem mais que o normal. Sua mão enlaça a ponta do cabelo com a mesma mania de infância, está absurdamente frio aqui em cima, mas não consigo me mexer. Parece tudo tão certo cm o seu corpo atrás do meu e o rosto que se aconchega no meu ombro, a placa da 97 FM piscando a alguns prédios de nós. Por um momento os carros congelam na avenida, as garotas de programa paralisam em seus pontos soprando aquela fumaça imunda de cigarro de suas bocas abusadas, no andar debaixo nossos amigos param de rir de suas bobagens levianas e só resta nós, o barulho da chuva e o pisca-pisca da noventa e sete FM. Não parece muito mais certo dessa forma para você também? Nós precisamos sair daqui, o frio está aumentando e meu corpo pede pelo seu além de um recosto que meu ombro pode lhe oferecer. Nós descemos com as meias desajeitadas nos chinelos maiores que os pés, enquanto sempre ando com cautela escondendo meu antigo medo de escada, você se aventura e desastrada cai, como sempre faz, desastradamente. O tempo passa de congelado à veloz como as nuvens que estão sobre nós. Não me importo com meu medo de altura e precisamente de escadas, seria inútil me concentrar em qualquer coisa que não fosse me certificar sobre seu bem estar. Fui sem meu semelhante jeito desconcertado, queria te pegar no colo, queria voltar no tempo, queria não ter subido naquele maldito terraço, queria ter caído no seu lugar mesmo que isso aumentasse meu medo de escada. Te tiro dali com a preocupação e o nervosismo pulando às veias. Nosso tempo havia acabado, eu precisava ir e cumprir meus horários que não podem ser revogados ou questionados. Vou novamente deixando metade de mim e todo o cuidado e amor que me falta ser dado e recebido. As prostitutas soltaram a fumaça, os carros voltaram a correr acima da velocidade permitida. Tudo voltou ao seu normal quando nós nos desajeitamos e fomos desastrados mais uma vez.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário