segunda-feira, 30 de julho de 2012

Gaúcho.

O jeito calmo, ranzinza e principalmente calado, condena que ele realmente nasceu em uma cidadezinha do interior. O sotaque bem carregado também, mas sinceramente, não conheço a capital do Rio Grande do Sul pra dizer se eles falam menos aquele "dai" do qual tanto reclamei. Foi assim, no primeiro dai.
- Tá frio né?
- Não acho, dai.
Pus as mãos dentro do casaco e tremendo perguntei como podia ele não estar sentindo todo esse frio. Ainda mais nessa cidade que não entende a distinção de verão e inverno. Todos os dias ensolarados nos fazem uma semi hipotermia quando resolvem deixar o frio vir. Não entrarei em conversas e detalhes meteorológicos, já que se trata dele. O gaúcho.
- Me empresta o fogo?
Soprou a fumaça, me olhou de canto, pôs a mão no bolso e me entregou. Não parecia estar a fim de conversa. Acendi um cigarro e devolvi o esqueiro.
- Achei que tu ia fazer uma fogueira, guria. Não sei porque vocês sentem tanto frio.
- Você está aqui a quanto tempo?
- 15 dias.
- Então, nós somos acostumados com o calor. Você vai perceber isso! E quando o tempo muda... Enfim, entendeu?
- Entendi.
Permanecemos ali até o meu cigarro acabar, junto a cerveja que ele tomava ainda sem se importar com o frio que gritava me mandando de volta para casa. Me despedi com um sorriso, joguei a binga no chão e cruzei a rua para pagar a conta do bar.

Duas semanas depois, lá estava ele com sua camisa do Grêmio. Meio recluso e solitário na mesa. Já havia bebido algumas doses de vinho, puxei a cadeira e sentei de frente para ele.
Seria impossível narrar um dialogo de aproximadamente quatro horas. De filmes à promiscuidades passadas, ri como a tempo não fazia. E acabamos em seu apartamento. Ele abria a garrafa de vinho enquanto olhava sua estante de livros.
- Posso me perder aqui?
- Pode. Só deixo porque tu tem muito bom gosto!
"Será que para homens também?" Pensei. Acho que não, porque desde a primeira vez que o vi sabia exatamente que estava me metendo em uma furada. Uma das melhores na cama, mas definitivamente, uma furada.

Irônico foi descobrir que o nome da cidade era "Santa Maria" enquanto ele era um bom ateu, fã de Whisky e Bukowski... Fodedor de mocinhas à mulheres casadas.

Me perdi tanto que só fui achar minha calcinha em cima do LP do Oasis, as 6 da manhã. Um barulho estridente de buzina vindo da rua, olhei pela janela do 8º andar. Senti uma vertigem enorme da ressaca que se aproximava. Quando olhei para trás, ele vestia a cueca e também tentava abrir os olhos.
- Hoje é segunda-feira.
- É... Eu me lembro. Eu preciso trabalhar.
- E eu também!
- Tem uma padaria a duas ruas daqui.
Ele concordou com a cabeça e não falamos mais nada. Não trocamos telefone, não sorrimos mais. Após comer um misto quente, e ele tomar seu café com aspirina, cada um foi para seu caminho com um aperto de mão e pelo menos eu trabalhei até as 6 da tarde, rezando pela cama que me esperava em casa.

Os cachorros haviam bagunçado tudo, meus livros estavam empoeirados e minha pilha de roupa suja chegava a um metro de altura. Minha ressaca só começava a se despedir agora e no meio do caos, o sotaque gaúcho ecoava. O jeito pretensioso de ser um cafajeste e dizer com todo orgulho do mundo que seu estado era o melhor... Entrelinhas, ele se dizia o melhor. Em tudo. Pelo menos em humildade, eu já sabia que não. Já na cama...

- Sinto falta das cervejas de lá. Deu de Heineken e Stella, é só isso que vocês tem?
- Eu gosto das brasileiras. Da Antárctica, pro exemplo.
- Tu quer mesmo discutir sobre cerveja, lindinha? Aposto como conheço tudo sobre várias que você sequer ouviu falar.
- Então tá bem.
Peguei minha Stella e me retirei do balcão. Ele não moveu um músculo, um gesto, um fio de cabelo, durante meia hora, como se estivesse brincando de estátua. Um amigo cruzou a porta. Sim, amigo que nunca havia me levado para a cama. Como todos os outros caras do bar, tirando o gaúcho com marra de carioca. Então me excedi, como sempre fiz e o amigo me levou nos ombros para casa. Exatamente assim. Me deixou na porta, trancou o portão e os cachorros latiram até o caminho da cama.

- Descobri um lugar que vende várias cervejas alemãs. Está cedo ainda, vamos lá?
Cheguei no balcão, sóbria, sorrindo e com uma enorme saudade do cheiro que ficava bem no seu pescoço.
- Me diz onde é e depois eu vou.
- Claro.
A voz saiu tremida demais, tardia demais, mas automaticamente peguei sua comanda, a caneta na camisa do garçom e anotei o endereço. Joguei os dois em cima da mesa e sai.

- Ei! Olha aqui, eu gostei dessa.
Levantei a garrafa de cerveja, como se ele pudesse ver de longe.
- O que tu ta fazendo guria maluca?
- Ué, tô te gritando... E como a rua ta vazia e eu preciso gritar bem alto para você ouvir daí de cima, os vizinhos chamarão a polícia em provavelmente 3, 2, 1...
- Fica calada! Já vou abrir pra ti.
Me concentrei em não sentar no chão e permanecer o mais sóbria que poderia falsamente aparentar.
- O que tu quer?
- Entrar. Sabe, tá frio. Né?
- Não. Nem um pouco.
- É, eu sei. Mas eu quero entrar. Mas... Tá, se você não quiser... Eu já estou indo.
- Entra.
- Essa cerveja é muito boa.
Joguei a garrafa em seu peito, ele segurou, depois minha mão quando no primeiro passo para dentro da porta do seu apartamento, eu tropecei.
- Está bêbada.
- Muito.
- Esqueci de te avisar que elas são mais fortes.
- Quem?
- As alemãs, maluca!
- Você é um idiota!
- Tu também.
- Mas é bom de cama.
- Tu também.
- Então me fode.
A garrafa espatifou no chão, mais um vizinho para reclamar, mais alguns cachorros para latir. Suas mãos agarraram minha cintura, desceram pelas cochas, e subiram junto com a minha saia. Me pegou no colo.
- Me dê um bom motivo para te foder.
- Ué, tu acabou de dizer que eu sou boa de cama.
- E é. Mas eu vou te foder porque tu acabou de dizer "tu" e ficou uma graça com esse biquinho.
- Copiei teu sotaque.
- Mas gosto do seu, principalmente quando me pede pra te foder.
- E quando eu faço você me foder?
- Faz? Como?
Imprensei meu quadril no dele, minhas unhas nas suas costas, minha boca na sua orelha, minha boceta no seu pau. Apertei, fui mais fundo. Pôs minha calcinha pro lado, enfiou. Com mais força, com mais velocidade, com mais vontade. Gemia, batia, mandava. De quatro, de lado, de língua dentro.

- E ainda temos fama de viado!
- Tem mesmo.
- Por isso te comi melhor que os cariocas?
- Não tenho resposta para isso.

Seus dedos dos pés encontraram os meus debaixo do edredom, respirou fundo e então sussurrou:
- Tá frio, né?

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