quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Boa pedida.

- Pedro, abre a porta!
A sonoridade das gotas grossas de água caindo no chão era gostosa e eu relaxava ao som do banho de Laura. Hoje estava exausto demais para acompanhá-la, e ela apressada demais para ignorar meu estado. Então cá estava eu, deitado de mal jeito e semi-nu no sofá. Sai do transe com o grito dela e só assim reparei no barulho ensurdecedor que fazia dedos nervosos e ferozes quando encontravam a madeira. Levantei cambaleante, encontrei a maçaneta e a rodei. Olhei. Não acreditei.
Certeza eu tinha, nunca havia visto aquela mulher antes. Alta. Loira. Bonita... Não, bonita não, gostosa mesmo. Meus olhos se concentraram, acostumaram e a seguiram. Ela não pediu, entrou. Batendo o salto no piso assim como as mãos na madeira: Irritantemente e sensualmente ferozes. Sentou-se em uma mesa pequena, entre livros e cruzou as pernas. A encarei, levantando a sobrancelha e em resposta ouvi uma risada irônica. Sua mão branca de dedos compridos encostou em um livro ao seu lado, o clássico Dom Casmurro. Ouvi sua voz cantarolar pela primeira vez.
- Tão sua cara, Pedro. Dom Casmurro? Zona de conforto. Não tem como errar.
Aproximei-me a ponto de conseguir só sussurrar.
- Minha namorada vai sair a qualquer momento do banheiro e não vai gostar de ver você, seja lá quem você for, aqui.
Seu rosto mudou, agora representava dúvida, como uma atriz, ela encenava muito bem o seu papel, mas mesmo assim eu sabia que suas inúmeras faces simplesmente não eram reais.
- Que namorada Pedro? Que banho?
Concentrei-me no barulho do chuveiro. Silêncio. Me preparei para a porta se abrindo... Silêncio. Nada de movimentação. Após alguns segundos, me movi, abri a porta. Silêncio. Laura não estava ali.
Agora era o meu rosto que mudava e representava dúvida. Olhei para a loira que já de pé, me encarava.
- Quem é você?
- Você não lembrará de mim, porque eu sou o fim, querido. Sou o fim de todos que habitam a terra.
Seu rosto era inocente e sua voz era meiga. Ela se aproximou, tocou meu rosto num afago delicioso. Quase me deixei levar.
- Poético. Me responde. Quem é você?
- Não está óbvio?
Outro sorriso irônico. Sua perna enfiou-se entre as minhas, sua coxa esfregou na minha. Ela levantou seu corpo, empinou sua bunda, me olhou, me encarou e com a boca perto da minha, sussurrou:
- Sou a morte, Pedro.
Sua mão segurou minha nuca, puxou meu cabelo, continuou a me encarar, me seduzir. Ela pulou no meu colo, a segurei. Ela rebolou, se remexeu, me enlouqueceu. Abaixou minha calça e me chupou deliciosamente como uma bela puta.
A comi de todos os lados possíveis, em posições diversas e durantes horas. Provei o quão gostosa ela era.
Deitado, desfalecido no chão, com uma loira estranha e deliciosa entre meus braços, sussurrei.
- Quem é você?
Sua voz quente sussurrou em resposta no meu ouvido:
- Eu sou a morte, Pedro.
Queria abrir os olhos para vê-la, mas não consegui. Tentei me mexer, debater, gritar, espernear, rezar pra Deus ou outra entidade na qual nunca acreditei. Mas naquele momento só continuei quieto e imóvel escutando os passos do salto alto se afastarem. Eu podia ouvir a voz dela ecoando na minha cabeça, batendo e rebatendo em todas as direções, sua risada irônica.
Palavras que ela nunca disse, agora parecem tão reais:
"Você esperava uma caveira de capa preta?
Eu fui tua bebida, Pedro. Teu alcoolismo chinfrim. Fui tuas mulheres e teu gozo. Teu cigarro e aquela fumaça podre que te invadia. Fui tua auto-satisfação nas noites solitárias. Fui o alimento que você escolheu. Fui uma puta, loira e gostosa... Tua morte, como você quis. Ei, Pedro, boa pedida."

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