sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sobrenome Dilema.

Inventei um trabalho a ser entregue online e um jogo pra ver na TV. Sai pra comprar comida, permaneci durante horas na rua e nunca demorei tanto tempo em um banho. Fui a noite inteira monossilábico. Por sorte, ela estava tão cansada de suas próprias reclamações que adormeceu em meio a palavras venenosas antes mesmo de eu dizer "Cuidado."

Assim quieta, meio encolhida na cama ela era dócil, tímida e delicada. Só ali. Dias atrás, durante anos, eternamente, a desejei deitada na minha cama e agora ela finalmente estava ali, ela e a mágoa. Tua companheira inseparável, que se tornara minha também. Está sempre nós três. Isso quando não é nós quatro, ai são duas mágoas que sentam pra um café e uma prosa e nunca chegam a lugar nenhum. Sempre me culpando ou a ela.

Se nem nossas mágoas, que mesmo sendo parte de nós agem como donas de si, são capazes de fazer as pazes, imagine nós dois. O sexo disfarçava antigamente, mas era só disfarce mesmo, logo depois a carapuça caia e a cara por debaixo da mascara não era nem um pouco bela.

Ontem a noite ela me segurou, me arremessou objetos, deu na minha cara. Não sei bem o que ela queria de mim e exatamente por isso, nada fiz. Tirei suas mãos, me afastei e disse coisas que a machucaram mais do que teus tapas, unhas e outras manifestações infantis de raiva.
- Se você está tão incomodada, o que ainda está fazendo aqui?
Mal consegui encontrar um cômodo da casa onde seu choro não ecoasse nas paredes. Foram horas e horas dentro de um cômodo entre soluços e murros...

Ela colocou tudo pra fora em uma só noite e no raiar do dia não havia mais lágrima a ser derramada, nem palavra alguma a ser dita. Não para ela!

Pra mim só restou o cigarro me invadindo os pulmões e as palavras dela invadindo os ouvidos, os dois se alastraram corpo a dentro, mas só um deles parou diretamente na cabeça. Eu não conseguia mais olhar na cara dela sem enxergar minha dor a tua esquerda e meu orgulho a tua direita.

E agora, em outra madrugada, quase 24 horas depois... Eu a invejo. Invejo por ela estar em paz enquanto causa toda essa discórdia dentro de mim. Na escuridão da noite agora peço menos e um pouco mais. Peço menos dor e mais sensibilidade. Porque eu posso ser mais velho, mais pesado e mais alto, mas sou só um cara como qualquer outro. A diferença, é que agora herdo o sobrenome 'Dilema' da minha mulher.

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