Laura, a mulher que tudo fazia e nada tinha. Quem tanto amava e nada lhe era retornado.
“Não há como se preparar para certas situações, você sabe que hora ou outra, elas acontecerão, mas mesmo esperando, você nunca está preparado.”
Esse trecho é de uma carta feita por Laura, que encontrei a poucos minutos na primeira gaveta do criado mudo...
Noite passada:
Eram 10 da noite, havia acabado de sair do banho quando a campainha rasgou o silêncio do apartamento. Caminhei até a porta com a surpresa, e ao abrir, encontrei a cena que menos podia esperar. Laura. Não o fato de ela ter vindo me procurar, e sim o seu estado. Seus olhos vermelhos e bochechas enxadas entregaram o ocorrido. Já sabíamos que a situação estava clara para ambos, assim trouxe-lhe um copo d’água e em seguida, sentei-me de frente para ela, na mesa de centro. Esperei até que ela se sentisse a vontade para desabar em lágrimas e palavras que unidas esclareceriam o que ele havia feito dessa vez.
Conheço Laura a uns aproximadamente quatro anos e sei que mesmo ela não sendo das mais frívolas mulheres, é difícil procurar alguém em suas crises emocionais, independente do motivo... Além disso, ela havia comentado outrora que seu pai a procuraria. Ou seja: Era explicito o motivo que a fez atravessar ruas e ruas, esvaindo-se da maneira que conseguia, até chegar aqui. E agora em minha frente, sua voz rouca e frágil, me contava em detalhes a conturbada conversa que tiveram.
No meio do relato, eram palavrões que lhe saiam na boca e lágrimas que vazavam nos olhos. Ouvi pacientemente, levantei-me e a abracei durante um longo tempo, até ela decidir separar-se. Duas horas depois de alguns copos de bebidas alcoólicas, ela estava deitada, adormecida no sofá.
Agora, depois de horas, já era manhã do dia seguinte, quando achei sua carta na minha gaveta explicando e pedindo perdão pela “cena” que ela tinha causado ontem.
Laura parece se esquecer que ela é um tumulto na minha vida e eu posso suportar qualquer um de seus tumultos pessoais também. Machucava-me imaginar que alguém tinha o poder de fazer isso com ela, mas eu aceitava, porque raiva maior que a minha, estava com ela. Nesse exato momento, só queria retirar a dor que permanecia dentro dela, e eu sabia que a seguiria por toda a vida... Assim como as cicatrizes de um passado infeliz que fizeram a ela. Pobre menina, doce mulher. Laura, eu queria poder te explicar o quão doce e digna de ser amada você é. Acredite nisso! Acredite não em mim, mas em si mesma. Por favor.
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