sábado, 26 de maio de 2012
Leão nunca mais.
- Stella?
- Oi? - Penso em corrigi-lo com meu nome, até encarar o tão conhecido garçom de todas as terças, quartas, quintas... E tantas outras feiras. Não esquecendo o sábado e domingo, claro. Digo que não com a cabeça, ele abre os olhos mais que o normal como quem me pergunta o que eu faria no bar então.
- Tequila?
Rio desajeitada e repito o não, porém em voz alta, agora.
- Está bem.
Passa pelos corredores ao balcão, atende as mesas e volta sobre a mesma trajetória. Todos seus passos com visíveis olhos curiosos ao meu respeito. Algum tempo depois chega um tanto acanhado, abaixa e pergunta.
- Você ficará até que horas?
- Não sei... Muito provavelmente até querer voltar para casa. O que significa que mais uma vez vocês terão de me expulsar por ser a última resistente.
- E esperará a seco?
- Ok, me vê uma Stella. Já que você insiste...
O tempo demora anos nesse lugar quando estou sóbria, chega ser contraditório, mas no fundo amo Einstein pela Teoria da Relatividade. Temporal também, não é mesmo? Olhe lá as coisas que estou pensando enquanto a cerveja já quente escorre suas últimas gotas de suor. Limpo com meus dedos finos. O garçom continua me encarando, agora com um sorriso de canto. Pura cortesia a uma velha e constante cliente que parece estar em uma depressão pós termino. Parece? E por que parece? Diante de todas as situações que contemplei nos últimos dias sequer entendo como eu mesma posso ter me colocado nesse luto sem nenhum motivo real para tanto.
Tudo começou a duas semanas atrás, a duas mesas daqui quando estava do lado de fora e nem um pouco recatada como hoje, permanecendo sem as pernas cruzadas e de calças cumpridas. Ele apareceu com alguns amigos, que vieram me cumprimentar por também conhecerem-me. Os olhos fundos, a tatuagem com o signo aparecendo, o sorriso largo de quem quer abraçar o mundo. Acabei a noite acreditando que Leoninos e Cancerianos poderiam dar certo.
Em um lapso de utopia calculei que nem todos musculosos e viris são babacas. Lá fui eu, sem pretensão, mas no fundo, claro que algo pulsa aonde não deve. E o mínimo de expectativa era gerada já que sua banda preferida era Sublime e ele conhecia tão bem Charles Bukowski. Acho que esse conhecimento o influenciou, mas saiba que ainda prefiro o velho Buk! Me sentiria traindo-o admirando tanto qualquer outro homem. Ainda bem que bati antes de chegar a esse ponto. Não vou narrar em qual dia ele simplesmente parou de me responder, ou da forma ridícula que me senti. Como aproximadamente uma menina de 13 anos que sente as mãos soarem e aquela imensa vontade de agradar. A sensação estranha na barriga que o mundo apelidou de "Borboletas". E eu não sei para vocês, mas para mim paixão não tem nada a ver com borboletas. Pergunte ao paciente de amor platônico se essas tais borboletas são fofas, meigas ou gentis como esperamos. Eles te dirão com toda convicção do mundo que apaixonar-se é uma completa porcaria e essas tais borboletas estão mais para uma britadeira irritante e barulhenta.
Sinto que meu discurso mental anda revoltado demais, viro a primeira e última Stella da noite já quente. Desisto de pensar já que hora ou outra voltarei para casa e acabarei com alguma crônica de amor louco entre as pernas, Buk me narrando algum caso marginal como esse que ousei pensar existir.
O garçom vem em minha direção e quando está prestes a sentar na mesa, eu levanto.
- Vou pagar no balcão.
- Achei que ficaria até mais tarde... Ou amanhã cedo.
- Acho que não dessa vez.
- Você está bem?
- Claro.
- Sabe o que mais gosto em você? Sua sinceridade, sempre sorrindo e brincando. Mas hoje não está assim e até sua tristeza é sincera. Então, não minta agora!
Não respondi, o olhei acanhada me perguntando em que madrugada ele me reparou sem ser notado pelas minhas próprias visões tão ligadas. Apenas caminho até o balcão, pago a conta, pego o troco, saio sem procurá-lo. Apenas olho para o chão fingindo não conhecer o caminho. Já ultrapassando o espaço de mesas da calçada, escuto passos e uma mão segurando meu ombro.
- Fiquei preocupado.
- Acho que você levará uma bela bronca por ter largado as mesas e vindo aqui.
- Tenho que me preocupar com meus clientes. É o meu trabalho!
- O que quer?
- Te ver sorrir.
- Por que?
- Porque...
- Olha, eu não estou bem. Me perdoe, mas estou uma péssima companhia. Eu vou para casa e outro dia nós nos falamos, ok? Boa noite!
Não espero uma resposta, mesmo me arrependendo automaticamente de ser tão bruta com quem foi tão gentil. Só quando chego em casa e bato a porta da sala entendo o que aconteceu durante toda essa noite. O cara que estava sentado na mesa a minha esquerda me olhou a noite inteira, o tal garçom sempre deu em cima de mim e na verdade eu sempre soube disso. Eu sempre noto e não me importo. Os tais amigos do Leonino que me conhecem gostariam de estar no lugar dele. Não que eu seja pretensiosa - por mais que pareça - acontece que no fundo algo me diz que é verdade. Todos nós somos desejados por alguém e simplesmente fingimos não perceber, para ir atrás do que é utópico, difícil e relativamente inalcançável. Não adiantaria questionar agora todas essas linhas tênues. Taurinos, aquarianos, virginianos, eu poderia ter todo o Zodíaco. Garçons, amigos, conhecidos ou simplesmente estranhos que me fitam da mesa ao lado. Talvez case-se psicologicamente com Bukowski. Entre tantas suposições, sei apenas que esse leão nunca mais.
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